sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Agosto no Cebola

Agosto 2015
(Serra do Açôr - Picoto da Cebola)

A cada volta da Terra ao Sol é quase certo Abril águas mil, Natal em Dezembro, vinho em Setembro e Agosto no Cebola ...
A subida ao Picoto da Cebola, ponto mais alto da Serra do Açôr a cerca de 1400 m de altitude, tem sido sido, nos últimos anos, a primeira de muitas pedaladas por estas serranias quando venho para estas bandas em Agosto.
Subi pelo lado do "col de la Covanque" (quer dizer, a partir do cruzamento para a Covanca) com um calor infernal e desci pelo lado Norte com chuva, por um atalho direito às Meãs de tal modo inclinado que a mochila com a água me caía para a cima da nuca.

Poucas paragens para fotografias, contrariamente ao que é costume, porque ir ao Cebola é como que ir numa missão; é ir ali pelas cumeadas deslumbrantes, a levar com o vento e na pedalada certa, esperando que a fortuna a deixe durar muito! Esta é uma volta para poetas.

Casa do Guarda ao cimo da Barragem de Santa Luzia (ao fundo). Aqui é a terra do xisto.


Apanhado o estradão das Eólicas, já acima dos 1000 m passo sobre a aldeia de Fajão à esquerda (cujo edifício da antiga cadeia foi transformada em hospedaria "bike friendly"!) emoldurada pelos penedos do mesmo nome. A linha do  horizonte é disfarçada pelo fumo dos incêndios recentes.


Lá está o Picoto da Cebola, o cone em primeiro plano.  O risco branco do lado esquerdo é a estrada que me levará lá acima. Por trás, o planalto central da Serra da estrela aos 2000 m. A nascer no planalto da Estrela avista-se um cone de fumo do incêndio que neste dia assola a região de Gouveia e Manteigas.


A partir daqui foi velejar até ao sopé do Picoto pelo estradão. Um último olhar para trás, antes de iniciar a subida; os penedos de Fajão ao fundo.


E pedalada após pedalada, com mais ou menos derrapagem na pedra solta, mais suor a arder nos olhos ou menos força para tirar o bidão e beber água ... sobem-se os 3 km até lá acima.
E, uma vez lá, no cimo, é tempo de deixar o ar e tudo o resto entrar pelo peito dentro. A Torre, ponto mais alto de Portugal Continental, ali ao lado do capacete.


Ali


Aqui estamos no coração da cordilheira localizada na região centro de Portugal, a região das Beiras, desde a Beira Baixa à Beira Litoral, passando pela Beira Alta (Serras da Estrela, Açôr e Lousã). É uma espécie de espinha dorsal transversal. Ouvi dizer que é o local de onde se avista mais território em Portugal; desde o Alto Alentejo a Sul até ao Marão a Norte e da Estrela a Este (e por trás a Sudeste a Serra da Gata em Espanha) até ao mar a Oeste.

Para Sudeste. A serra da Gardunha ao centro, na linha do horizonte.


Para Sul


Sudoeste. A barragem de Sta. Luzia ao fundo, o local onde terminarei as pedaladas.


Oeste. O Trevim (1200 m) na Serra da Lousã, quase invisível devido ao fumo e à neblina na linha do horizonte.


Norte. S. Pedro do Açôr em primeiro plano e a Beira Alta por trás sob fumo. Nota-se o cume da Serra do Caramulo como um traço negro a cortar a mancha branca por baixo das nuvens..


E Este. O planalto da Estrela


Aqui já há granito, a pedra dura e fria.


"Aeolus" (deus Grego dos ventos) passa por aqui com frequência durante escapadelas do Olimpo.


Pois, mas é hora de descer.  A ideia é apanhar aquele caminho que me leva ao planalto ali em baixo e, depois, descer até ao vale das Meãs. Dos 1400 aos 750 m num instante.


Lá em baixo, na bifurcação do caminho, virarei à direita na direcção das Meãs. Um outro dia irei pela esquerda, pelo vale magnífico até S. Jorge da Beira.



O céu fechou, caíram umas pingas e na barragem de St. Luzia uma hora e meia depois a chuva era já copiosa.  A barragem está muito baixa, como poucas vezes a tenho visto. E vejo-a há muitos anos.




Olho agora daqui da barragem para o Cebola quando há um par de horas olhava do Cebola para aqui e mal se distinguia a barragem. O perfil na linha do horizonte, do cone do Cebola para o ombro (planalto onde bifurca o caminho) à direita descreve o trajecto que fiz a descer.



Foram as primeiras no Açôr. Outras pedaladas virão mas Agosto no Cebola está cumprido.





6 comentários:

  1. E pensar que eu, pobre pateta, quando aí passei a caminho de Fajão e a caminho do Piódão nem sabia que estava a olhar para o Cebola...
    Maria

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  2. O Picoto da Cebola é como que o Adamastor. À medida que nos aproximamos vai-se instalando um receio que quase, mas apenas quase, nos inibe de ir por ali acima e transpô-lo.
    Estar lá em cima é uma sensação muito especial.

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  3. Eu sei, eu sei, já passei por aqui... mas é como se fosse a primeira vez.
    Na quinta foto (a do repouso do guerreiro ou do lonely biker) a paisagem é deslumbrante, esmagadora, já andei aí perto mas não deu para me sentar assim a wanderingar...
    Não que estivesse sózinha, para essa zona fui sempre acompanhada.
    Deu mais para me despedir da paisagem, com um último olhar, como o João faz mais abaixo na #14.
    E a barragem sempre tão bela...
    :) Maria

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    1. Às vezes, Maria, quando aqui instalado no sofá em casa e olho as fotografias quase que duvido que andei por ali . Mas, em grande parte, foi por isto que iniciei o blog: a memória das pedaladas.
      Mas depois, devagarinho, à medida que olho, a memória vem. Quase que sinto o vento a soprar nas orelhas :)
      João

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  4. Olá João,

    Abril águas mil já cá canta.
    E o resto também há-de chegar.
    E ainda faltam as trovoadas de Maio.
    :)
    Maria

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  5. Olá Maria,

    as trovoadas e a carqueja em flor, fazendo clareiras de amarelo entre o violeta da urze pelos montes fora.

    João

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